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Que sociedade queremos ser?

Que sociedade queremos ser e para onde queremos ir? Essas foram as principais questões deixadas como reflexão pela analista de projetos do Instituto Ethos, Scarlett Rodrigues Cunha, que fechou a programação do evento alusivo ao Dia Internacional da Mulher, na Celesc. Como desdobramento de compromissos já assumidos em prol da diversidade, o presidente Cleicio Poleto Martins firmou um documento com boas práticas para igualdade de gênero, consolidando assim a assinatura da carta da ONU com princípios de empoderamento das mulheres.

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A representante da ONU Mulheres, Simone Bianche (esq.), ao abrir a programação relatou o contexto atual, apontando que “estamos na mesma tempestade, mas não no mesmo barco”. Sua chamada foi em direção principalmente às instituições, e ainda aos homens, para atuar junto nesse movimento: “Não é somente certo, mas é uma questão de inteligência”, disse e completou: “A diversidade é um fator de bom negócio até porque desigualdade não traz benefício para ninguém”.

Os Princípios de Empoderamento das Mulheres - Equality Means Business, produzidos e disseminados pelas Nações Unidas para Igualdade de Gênero, o Empoderamento das Mulheres (ONU Mulheres) e o Pacto Global das Nações Unidas trata, em essência, de cumprir compromissos corporativos de responsabilidade e sustentabilidade.

Compromisso - Antes de assinar o documento, o presidente Cleicio respondeu a duas questões. Na primeira, sobre a importância de a Celesc se tornar signatária da Carta de Princípios, ele se remeteu aos trabalhos já realizados, principalmente por meio do Programa Celesc +Energia, parcialmente financiado com recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

“Com ele, instaurou-se um novo olhar sobre o tema diversidade de gênero na Celesc, através da implantação de estratégias internas e externas para fomentar o aumento de mulheres no setor, hoje representado por 22% do total de 3.336 colaboradores”, afirmou Cleicio (no registro abaixo, ele mostra o documento assinado).

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Cleicio entende que há uma transformação na cultura organizacional, mas existem barreiras: “Se temos 2 mulheres eletricistas em um quadro de 1.062 homens, vemos claramente que não é através de força e sim de condição técnica que essas mulheres trabalham. Não seria a barreira cultural o impedimento das mulheres se desenvolverem no setor de energia? Será que elas são respeitadas? Deixo aqui essa reflexão a todos neste evento”.

Ele afirmou que o compromisso assumido representa a necessidade e os benefícios de implementar políticas de igualdade de gênero para criar um ambiente mais justo e igualitário: “Espero que a igualdade de oportunidades e respeito a todos aconteça em um futuro próximo e que a Celesc se consolide como uma Empresa protagonista em igualdade de gênero no setor de energia no Brasil, com o seu quadro de colaboradores com mais mulheres e mais diversidade em todos os cargos”. Veja aqui a Carta de Princípios (link) e o documento assinado pelo presidente.

A diretora de Finanças e de Relações com Investidores, Claudine Furtado Anchite, primeira mulher na alta liderança da Empresa, relatou sua gratificação ao ver esse processo em andamento na Celesc, depois de haver acompanhado um programa semelhante como empregada na Engie Energia.

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Claudine (foto) do treinamento de lideranças sobre diversidade e destacou um conteúdo em particular – os vieses inconscientes que existem em nossa cultura: “Nós mesmas nos pregamos peças e contribuímos para nos desvalorizar. O quanto, em nossas instituições, não pré-julgamos? Aceitamos a liderança de um homem, mas e a mulher como líder?”. 

Ela lembrou da primeira brasileira investidora - Eufrásia Teixeira Leite (abaixo) que, na virada do século 19, quando as mulheres brasileiras não podiam sequer votar, ela se destacava pelo pioneirismo no mundo dos investimentos, negócios e da filantropia. Em 1900, com 50 anos, ela se tornou uma espécie de investidora anjo, financiando novas tecnologias. Incentivou o desenvolvimento industrial, comprando muitas ações de companhias europeias dos setores extrativistas, de transportes, elétricos, petroleiros, além de atuar em questões públicas e urbanas, como a ressocialização de soldados da 1ª Guerra Mundial, entre outras causas.

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Claudine apontou que Eufrásia conseguiu desafiar preconceitos e vencer um ambiente ainda mais agressivo que o atual, porém nunca casou, pois à época, tornando-se casada, caberia legalmente ao marido a administração de seus bens.

A diretora contou sua própria experiência com assédio sexual em seus tempos de trainee: “Eu não sabia como lidar com a situação e, um ano depois, acabei pedindo demissão. Mas vejo avanços e, aqui na Celesc, vamos alcançar resultados positivos sendo signatários da Carta da ONU”.

Parceria - O diretor presidente do Instituto Ethos, Caio Magri, falou na sequencia sobre a importância do trabalho sobre gênero e diversidade pelas organizações: “Essa atitude – a assinatura – deve ser celebrada, especialmente agora em tempos de pandemia, pois nunca as desigualdades se mostraram tão perversas”. Ao mencionar a gravidade da situação na pandemia com o aumento da violência doméstica, lembrou particularmente do caso das mulheres negras, mais muito impactadas pela baixa remuneração e pelo desemprego: “Nada é mais eficaz do que gerar trabalho decente para engajar mulheres negras”.

Ele saudou o esforço da Celesc ao promover análise e diagnóstico interno para promover um programa de diversidade: “Isso vai promover melhoria do ambiente; entretanto, é preciso acelerar as mudanças”. Também destacou o potencial de mobilização da Empresa: “Há um caminho interno, uma nova forma de atuar para manter e melhorar os indicadores Ethos. Mas o desafio é acelerar o processo e estabelecer discussão para ações externas, definir metas ambiciosas, trabalhar com a população, olhar para a cadeia produtiva... A Celesc é a empresa pública mais importante de Santa Catarina, tem uma cadeia de valor extremamente importante. A adesão à Carta da ONU vai incentivar outras adesões. O Instituto Ethos é parceiro nessa ação; estaremos juntos para engajar outras empresas no processo”.

Em aparte, a diretora Claudine enfatizou a Celesc como agente fundamental na liderança desse movimento: “Ser signatária da Carta acaba gerando incentivo para que outras sigam esse mesmo compromisso”.

Para encerrar a programação, a analista do Ethos, Scarlett Rodrigues Cunha, mostrou dados da violência durante a pandemia (veja abaixo), que apontam “novos velhos desafios”: “Ao falar de mulheres, precisamos olhar as especificidades, como a questão de gênero e raça como a situação das mulheres negras com menos privilégios sociais. Ao pensar políticas públicas, precisamos pensar nessas questões”.

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As condições das mulheres avançaram no mercado de trabalho, apesar disso, ainda trabalham mais e ganham menos, principalmente a força de trabalho formada pelas mulheres negras, que compõe 82% do mercado informal. Veja abaixo.

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No mercado de trabalho, as mulheres ocupam apenas 13,6% no quadro executivo das corporações; mas são maioria nos cargos menos remunerados (estágios, trainee – confira abaixo).

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Agora, durante o período de pandemia, outra questão feminina passou a ser o trabalho remoto por conta do acúmulo de funções domésticas, incluindo o cuidado com os filhos.

Dados já apontavam, ainda em 2019, que as mulheres gastavam quase o dobro de tempo com afazeres domésticos: 21,4 horas semanais enquanto os homens gastaram 11 horas. Essa condição está fortemente vinculada à cultura existente, em que há papéis sociais predeterminados para cada gênero; por exemplo a assimilação do papel de “cuidadora” como característica feminina.

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Scarlett abordou ainda a diferença entre os conceitos de igualdade e equidade: “O conceito de Igualdade traz a concepção de que devemos trata todos de forma igualitária, mas não somos todos iguais”. Por isso, aponta a analista, que o termo Equidade é mais adequado para trabalhar as questões de gênero em sociedade: “Isso porque remete à noção de justiça social, levando em consideração as trajetórias e permite olhar as especificidades”.

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Ao concluir sua fala, Scarlett destacou as principais motivações para empreender essas mudanças: que sociedade queremos ter e para onde queremos ir?

 

Texto: Vânia Mattozo

Comunicação Celesc